No mesmo dia chegam a ser tudo isso: gritam com uns, buzinam a outros, escutam os clientes novos ou habituais (que não têm mais ninguém que os queira ouvir), oferecem um ombro amigo a quem lhes entra pela vida dentro com o coração despedaçado, ultrapassam todos os limites de velocidade em casos de doença ou aflição e ainda aconselham, partilham a dor e são tantas vezes solidários de formas que nem nos passam pela cabeça.

E correm riscos, muitos riscos, todos aqueles que se corre se pensarmos em estar isolados, com estranhos, dezenas de vezes por dia.

E têm medo, medo à séria, mas preferem nem pensar nele … e então falar, muito menos!

Amargurados com a crise, com o turismoinfo-icon que não lhes dá mais trabalho, com a concorrência desleal promovida por ubers e tuk tuks, também eles desesperam muitas vezes, disparando em todas as direções, algumas delas em direção o próprio sujeito que lhes entra habitáculo dentro.

Se pensarmos no investimento em formação (CAP),no baixo valor da bandeirada face às despesas do sector, no valor do quilómetro inalterado - indiferente às oscilações dos preços dos combustíveis - emoldurados pelo estado geral da nação, facilmente compreenderemos que entrar num táxi pode ser uma verdadeira bomba relógio ou a melhor das aventuras. Depende muito de nós, também!

Uma coisa é certa: dentro de um táxi encontrará sempre alguém que podendo ser mal humorado, pessimista, reivindicativo, tendencioso, alegre, solidário, divertido, é acima de tudo um ser humano! 

O taxista é alguém que, na maioria dos casos, se esforça por adaptar-se a si, tentando perceber se é daqueles que gosta de conversar, se prefere ouvir música ou notícias, com o som alto ou baixo, ou se simplesmente agradece a ausência de contacto. 

E, no final da corrida, a certeza de ouvir dizer, em tom sincero e esperançoso, “VOLTE SEMPRE”.